sábado, 18 de janeiro de 2014

Uruguay de Bike - Parte 1

Iniciando o ano com o Pedal direito – Uruguay de bike – Parte 1
Passamos os últimos dias do ano, em meio aquele calorão infernal de Porto Alegre, pensando no que fazer nos próximos dias, a idéia era aproveitar a folga e fazer uma pequena cicloviagem, mas para onde poderíamos ir para fugir deste calorão, da multidão, que tenha estradas boas e seguras para pedalarmos nesta época do ano? etc... Foi então que no último dia do ano decidimos fazer o litoral do Uruguay de bike. Compramos nossas passagens para o Chuí para a noite do dia 1º, e do Chuí seguiríamos pedalando até Punta del Este? Montevideo? Colonia? Não sabíamos ao certo, só planejamos que iríamos pedalando, acampando e curtindo, sem compromisso.
O plano era seguir pedalando sempre o mais próximo possível do mar, assim deveríamos pegar estradas mais planas, com menos movimento, com a brisa do mar nos refrescando, além é claro do belo visual e maior quantidade de possíveis pontos de apoio para comer ou beber algo e também com maior oferta de campings.
Visto que estamos em plena alta temporada, optamos em pernoitar sempre em campings, assim teríamos mais liberdade e autonomia, sem ter que ficar dependendo de vagas disponíveis em hotéis, pousadas ou aluguel de casas, nem perdendo tempo procurando. Estávamos preparados para camping selvagem, podendo acampar em qualquer praia, mata, ou até mesmo beira de estrada, no Uruguay isto ainda é uma prática bem comum, pode-se acampar com segurança em qualquer um destes locais.
Então com as passagens compradas, passamos a virada do ano, envolvidos com os preparativos, separando equipamentos, carregando os alforges, preparando as bikes. Coisa muito boa terminar um ano e iniciar o outro preparando uma bela cicloviagem.
Enfim chegou a hora, na primeira noite de 2014 seguimos pedalando com as bikes carregadas até a rodoviária de Porto Alegre onde pegamos o ônibus para o Chuí. Chegamos cedo na rodoviária pois sempre tem toda a função de prepará-las para a viagem. Retiramos as rodas dianteiras e as fixamos junto ao quadro, pegamos um tecido cilíndrico e elástico que compramos especialmente para isto, tipo aqueles que os surfistas utilizam para as pranchas, e enfiamos cada bike dentro de uma destas capas, com alforges e tudo, ficou muito bom nosso mala bike.  

Como sempre as bikes foram muito bem acomodadas no ônibus da empresa Planalto, o motorista abriu os bagageiros do ônibus e deixou todo o espaço a nossa disposição, escolhi o melhor local para as bikes, fixei as duas bikes junto a uma treliça estrutural do ônibus, uma de cada lado desta estrutura, amarradas com extensores. Muito obrigado a empresa Planalto que trata tão bem os ciclistas e suas bikes. As demais empresas deveriam seguir este exemplo.

Às 7h do dia 02 de janeiro chegamos ao Chuí. Neste momento sim o coração começava a bater mais forte, estava começando nossa viagem. Junto com a gente estava chegando uma frente fria. Montamos as bikes e nosso objetivo era achar algum local para nos abrigarmos da chuva que estava para chegar, e esperar o tempo melhorar em algum local seco e tomar um café da manhã. O ideal seria um posto de gasolina com alguma loja de conveniência ou algo parecido. Começou a aventura, seguimos para a avenida de maior movimento, que faz a fronteira entre Chuí e Chuy, tudo fechado, todo comércio só abre depois das 10h. Como faríamos entrada no Uruguay, ainda não tínhamos nada de mantimentos pois é proibida entrada no Uruguay com produtos de origem animal e/ou vegetal brasileiros e vice versa. Ficamos circulando de bike. No Chuy encontramos um posto de combustível, mas sem telhado, e nada para matar a fome da manhã. Retornamos um pouco encontramos uma “panaderia” onde finalmente comemos ótimas “media lunas” e tomamos um “pomelo” já em ritmo de viajem no Uruguay. Para fugir da chuva seguimos novamente para a rua principal, e nos refugiamos em frente a vitrine de uma das lojas que ainda estavam fechadas. Ali ficamos aguardando a chuva passar e a casa de câmbio abrir para trocarmos dinheiro já que passaríamos por regiões pouco turísticas e habitadas onde talvez os Reais não fossem aceitos. Em quanto chovia ficávamos pensando em o que fazer, nosso primeiro destino era o Parque de Santa Teresa distante 40km aproximadamente. Tínhamos a opção de ir para Barra do Chuy, acampar lá e seguir no outro dia, ou ficar numa pousada no Chuy. Nenhuma destas outras opções nos agradava. Queríamos pegar a estrada, iniciar nossa viagem, mas iniciar a viagem já com chuva logo no início? E com previsão de ventos de mais de 100km/h contra? Ainda tínhamos muito tempo, tínhamos todo dia pela frente, nosso primeiro destino era muito perto, então decidimos esperar com aquela fé de que vai melhorar, e foi melhorando, consegui trocar o dinheiro na rua mesmo, antes do comércio abrir e então após a chuva iniciávamos nossa viagem.
Na saída encontramos a rua “Arachanes”, a qual registramos pois estávamos pedalando na região dos índios Arachanes e nada mais especial que ver o nome com o qual batizamos nosso querido barco!
Logo nos primeiros quilômetros já chegamos na aduana, fizemos os procedimentos de entrada no Uruguay, e coletamos informações, pegamos alguns mapas, batemos um papo com o pessoal da Aduana que nos informou que no Uruguay desde o dia 1º de janeiro/2014 é obrigatória a utilização de colete refletivo por ciclistas e motociclistas.
Estamos no Uruguay!!! Tudo certo, pedalar e aproveitar a viagem. Seguimos pedalando pelo acostamento da Ruta 9. O movimento estava intenso, principalmente no sentido contrário. O tempo estava nublado, mas sem chuva e sem vento, a cabeça da frente fria já havia passado, e com ela as condições mais adversas de chuva e vento. Depois dos primeiros 25km já chegamos em Lá Coronilla, onde fizemos uma breve pausa para tomar alguma coisa e comer uns alfajores para começar a entrar no clima. Logo reiniciamos nosso pedal, o nosso destino do dia estava próximo. Seguimos pedalando pelo acostamento pois tinha muita gente voltando para o Brasil depois das festas do final do ano e o movimento ainda era intenso no sentido contrário. Muitos motoristas e motociclistas passavam abanando, buzinando, vibrando com nossa viagem. Parecia que estávamos indo para a Patagônia. Quando faltavam menos de 10 km para o Parque se Santa Tereza, vimos um carro que parou no acostamento em que trafegávamos, logo percebi que deveriam ser ciclistas, pois o carro estava equipado com 2 calhas para transporte de bikes em seu teto. Chegando mais perto percebemos que eram brasileiros, e chegando mais perto vimos o motorista surpreso levantando os braços e dizendo “é o Dieter e a Maxi!!!” e nós também surpresos reconhecemos o Fabiano Gutierres e a Luciane Junqueira. Sabíamos que eles estavam em Punta del Diablo, mas nunca imaginamos que nos encontraríamos, muito menos na estrada. Eles estavam voltando para o Brasil, identificaram os coletes do Pedalegre que estávamos utilizando, fizeram meia volta e vieram conferir de perto quem eram os dois ciclistas. Uma grande surpresa e uma bela recepção. Trocamos algumas informações e após mais um abraço seguimos nossas viagens, eles em direção ao Brasil e nós Uruguay a dentro, eles de carro e nós de bike, Oba! Ficamos tão eufóricos que não lembramos de fotografar, mas tem coisas que ficam marcadas na memória como uma lembrança ótima!
Mais alguns quilômetros a frente chegamos num ponto da estrada em que a Ruta 9 fica bem larga numa reta e passa a ser tanto estrada como pista de pouso de avião com as cabeceiras devidamente sinalizadas inclusive com os rumos de cada aproximação.
 Logo adiante já avistávamos a Fortaleza de Santa Tereza, seguimos pedalando e logo chegamos a entrada do camping onde fizemos nosso registro de ingresso.
A estadia mínima é de três dias, para nós isso foi um prazer, pois estes três dias não são suficientes para se conhecer todo este parque de mais de 3 mil hectares e mais de 2 milhões de árvores, diversas praias e mais de 60km de trilhas, além de toda estrutura necessária como supermercados, restaurantes, lavanderia, sorveteria, etc.
Todo este parque e o camping é mantido e controlado pelo exército uruguaio com regras rígidas o que mantém a ordem nesta verdadeira cidade de lona onde havia mais de 1500 acampamentos. Com o mapa em mãos logo entramos e fomos tentando nos localizar e achar um bom local para acamparmos.
Já havia acampado ali quando criança, e ainda tenho na lembrança daquele acampamento inesquecível, eu e o Tiago Foester fazendo valetas em volta das barracas pois estava prevista uma tormenta muito forte, naquela época as barracas não tinham fundo, ou quando enchi os pés de roseta caminhando descalço numa das trilhas para a praia, isto foi a mais de 30 anos.


Este camping continua muito impressionante, diversos acampamentos com os mais variados tipos de gente, os locais mais concorridos eram próximos a praia La Moça, onde predominavam as gurizadas querendo fazer festa e surfistas, também é o local com a melhor infra estrutura.

Queríamos um local mais tranqüilo, abríamos mão da infra-estrutura. Foi quando no Cerro Chato achamos um local que nos agradou, uma área mais familiar, com as barracas mais afastadas umas das outras, uma campista uruguaia que conhecia o parque muito bem nos ajudou na localização de uma boa área alta, com sombra de algumas árvores para montarmos nosso acampamento.

Logo tratamos de montar nosso acampamento que seria nosso lar pelos próximos três dias, tratamos de comprar alguns mantimentos iniciais. Nos refugiamos em nossa barraca em quanto chovia forte lá fora. Fizemos um lanche dentro da barraca e descansamos ao som da chuva. Oh que coisa bem boa!
Após aproximadamente uma hora a chuva parou e ainda pudemos aproveitar um restinho do dia e continuar explorando o parque, em nossa barraca tudo absolutamente seco, enquanto muitos outros campistas tiveram tudo molhado por montarem suas barracas em locais baixos que alagaram ou por terem sido mal montadas mesmo.
À noite fizemos uma massa quatro queijos e tomamos umas Patrícias ao redor da fogueira. Show de pedal. Nossa cicloviagem estava só começando.

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