Iniciando o ano com o Pedal direito – Uruguay de bike –
Parte 1
Passamos os últimos dias do ano, em meio aquele calorão
infernal de Porto Alegre, pensando no que fazer nos próximos dias, a idéia era
aproveitar a folga e fazer uma pequena cicloviagem, mas para onde poderíamos ir
para fugir deste calorão, da multidão, que tenha estradas boas e seguras para
pedalarmos nesta época do ano? etc... Foi então que no último dia do ano
decidimos fazer o litoral do Uruguay de bike. Compramos nossas passagens para o
Chuí para a noite do dia 1º, e do Chuí seguiríamos pedalando até Punta del
Este? Montevideo? Colonia? Não sabíamos ao certo, só planejamos que iríamos pedalando,
acampando e curtindo, sem compromisso.
O plano era seguir pedalando sempre o mais próximo possível
do mar, assim deveríamos pegar estradas mais planas, com menos movimento, com a
brisa do mar nos refrescando, além é claro do belo visual e maior quantidade de
possíveis pontos de apoio para comer ou beber algo e também com maior oferta de
campings.
Visto que estamos em plena alta temporada, optamos em
pernoitar sempre em campings, assim teríamos mais liberdade e autonomia, sem
ter que ficar dependendo de vagas disponíveis em hotéis, pousadas ou aluguel de
casas, nem perdendo tempo procurando. Estávamos preparados para camping
selvagem, podendo acampar em qualquer praia, mata, ou até mesmo beira de
estrada, no Uruguay isto ainda é uma prática bem comum, pode-se acampar com
segurança em qualquer um destes locais.
Então com as passagens compradas, passamos a virada do ano,
envolvidos com os preparativos, separando equipamentos, carregando os alforges,
preparando as bikes. Coisa muito boa terminar um ano e iniciar o outro
preparando uma bela cicloviagem.
Enfim chegou a hora, na primeira noite de 2014 seguimos
pedalando com as bikes carregadas até a rodoviária de Porto Alegre onde pegamos
o ônibus para o Chuí. Chegamos cedo na rodoviária pois sempre tem toda a função
de prepará-las para a viagem. Retiramos as rodas dianteiras e as fixamos junto
ao quadro, pegamos um tecido cilíndrico e elástico que compramos especialmente
para isto, tipo aqueles que os surfistas utilizam para as pranchas, e enfiamos cada
bike dentro de uma destas capas, com alforges e tudo, ficou muito bom nosso
mala bike.
Como sempre as bikes foram muito bem acomodadas no ônibus da empresa Planalto, o motorista abriu os bagageiros do ônibus e deixou todo o espaço a nossa disposição, escolhi o melhor local para as bikes, fixei as duas bikes junto a uma treliça estrutural do ônibus, uma de cada lado desta estrutura, amarradas com extensores. Muito obrigado a empresa Planalto que trata tão bem os ciclistas e suas bikes. As demais empresas deveriam seguir este exemplo.
Na saída encontramos a rua “Arachanes”, a qual registramos pois estávamos pedalando na região dos índios Arachanes e nada mais especial que ver o nome com o qual batizamos nosso querido barco!
Logo nos primeiros quilômetros já chegamos na aduana, fizemos os procedimentos de entrada no Uruguay, e coletamos informações, pegamos alguns mapas, batemos um papo com o pessoal da Aduana que nos informou que no Uruguay desde o dia 1º de janeiro/2014 é obrigatória a utilização de colete refletivo por ciclistas e motociclistas.
Estamos no Uruguay!!! Tudo certo, pedalar e aproveitar a
viagem. Seguimos pedalando pelo acostamento da Ruta 9. O movimento estava
intenso, principalmente no sentido contrário. O tempo estava nublado, mas sem
chuva e sem vento, a cabeça da frente fria já havia passado, e com ela as
condições mais adversas de chuva e vento. Depois dos primeiros 25km já chegamos
em Lá Coronilla, onde fizemos uma breve pausa para tomar alguma coisa e comer
uns alfajores para começar a entrar no clima. Logo reiniciamos nosso pedal, o
nosso destino do dia estava próximo. Seguimos pedalando pelo acostamento pois
tinha muita gente voltando para o Brasil depois das festas do final do ano e o
movimento ainda era intenso no sentido contrário. Muitos motoristas e
motociclistas passavam abanando, buzinando, vibrando com nossa viagem. Parecia
que estávamos indo para a Patagônia. Quando faltavam menos de 10 km para o
Parque se Santa Tereza, vimos um carro que parou no acostamento em que trafegávamos,
logo percebi que deveriam ser ciclistas, pois o carro estava equipado com 2
calhas para transporte de bikes em seu teto. Chegando mais perto percebemos que
eram brasileiros, e chegando mais perto vimos o motorista surpreso levantando
os braços e dizendo “é o Dieter e a Maxi!!!” e nós também surpresos reconhecemos
o Fabiano Gutierres e a Luciane Junqueira. Sabíamos que eles estavam em Punta
del Diablo, mas nunca imaginamos que nos encontraríamos, muito menos na
estrada. Eles estavam voltando para o Brasil, identificaram os coletes do
Pedalegre que estávamos utilizando, fizeram meia volta e vieram conferir de
perto quem eram os dois ciclistas. Uma grande surpresa e uma bela recepção.
Trocamos algumas informações e após mais um abraço seguimos nossas viagens,
eles em direção ao Brasil e nós Uruguay a dentro, eles de carro e nós de bike, Oba!
Ficamos tão eufóricos que não lembramos de fotografar, mas tem coisas que ficam
marcadas na memória como uma lembrança ótima!
Mais alguns quilômetros a frente chegamos num ponto da
estrada em que a Ruta 9 fica bem larga numa reta e passa a ser tanto estrada
como pista de pouso de avião com as cabeceiras devidamente sinalizadas
inclusive com os rumos de cada aproximação.
Logo adiante já avistávamos a
Fortaleza de Santa Tereza, seguimos pedalando e logo chegamos a entrada do
camping onde fizemos nosso registro de ingresso.
A estadia mínima é de três dias,
para nós isso foi um prazer, pois estes três dias não são suficientes para se
conhecer todo este parque de mais de 3 mil hectares e mais de 2 milhões de árvores,
diversas praias e mais de 60km de trilhas, além de toda estrutura necessária como
supermercados, restaurantes, lavanderia, sorveteria, etc.Todo este parque e o camping é mantido e controlado pelo exército uruguaio com regras rígidas o que mantém a ordem nesta verdadeira cidade de lona onde havia mais de 1500 acampamentos. Com o mapa em mãos logo entramos e fomos tentando nos localizar e achar um bom local para acamparmos.
Já havia acampado ali quando criança, e ainda tenho na
lembrança daquele acampamento inesquecível, eu e o Tiago Foester fazendo
valetas em volta das barracas pois estava prevista uma tormenta muito forte,
naquela época as barracas não tinham fundo, ou quando enchi os pés de roseta
caminhando descalço numa das trilhas para a praia, isto foi a mais de 30 anos.
Queríamos um local mais tranqüilo, abríamos mão da infra-estrutura.
Foi quando no Cerro Chato achamos um local que nos agradou, uma área mais
familiar, com as barracas mais afastadas umas das outras, uma campista uruguaia
que conhecia o parque muito bem nos ajudou na localização de uma boa área alta,
com sombra de algumas árvores para montarmos nosso acampamento.
Logo tratamos de montar nosso acampamento que seria nosso
lar pelos próximos três dias, tratamos de comprar alguns mantimentos iniciais.
Nos refugiamos em nossa barraca em quanto chovia forte lá fora. Fizemos um
lanche dentro da barraca e descansamos ao som da chuva. Oh que coisa bem boa!
Após aproximadamente uma hora a chuva parou e ainda pudemos aproveitar um
restinho do dia e continuar explorando o parque, em nossa barraca tudo absolutamente
seco, enquanto muitos outros campistas tiveram tudo molhado por montarem suas
barracas em locais baixos que alagaram ou por terem sido mal montadas mesmo. À noite fizemos uma massa quatro queijos e tomamos umas Patrícias ao redor da fogueira. Show de pedal. Nossa cicloviagem estava só começando.
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